sábado, 3 de julho de 2010

E se realmente gostarem?

Se o toque do outro de repente for bom? Bom, a palavra é essa.
Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver.
Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. Bons, normais, comuns.
Coisa de gente. Cheiros íntimos, secretos.
E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor?
Quando você chega no mais íntimo, no tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido.

Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural.
Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra
dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas
burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido?
Se tudo isso, se tocar no outro, se não só tolerar e aceitar, se tudo isso
for o que chamam de amor. Amor no sentido de intimidade, de conhecimento muito, muito fundo. Da pobreza e também da nobreza do corpo do outro. Do teu próprio corpo que é igual, talvez tragicamente igual.

O amor só acontece quando uma pessoa aceita que também é bicho. Se amor for a coragem de ser bicho. E depois, um instante mais tarde, isso nem sequer será coragem nenhuma, porque deixou de ter importância.
O que vale é ter conhecido o corpo de outra pessoa tão intimamente como você só conhece o seu próprio corpo. Porque então você se ama também.